Estudante da Politécnica aos 16 anos, Comte é nomeado em 1832
explicador de análise e de mecânica nessa mesma escola e, depois, em 1837,
examinador de vestibular. Ver-se-á retirado desta última função em 1844 e de seu
posto de explicador em 1851. Apesar de seus reiterados pedidos, não obterá o
desejado cargo de professor da Politécnica, nem mesmo a cátedra de história
geral das ciências positivas no Collège de France, que quisera criar em
benefício próprio. A obra de Comte guarda estreitas relações com os
acontecimentos de sua vida. Dois encontros capitais presidem as duas grandes
etapas desta obra. Em 1817, ele conhece H. de Saint-Simon: O Organizador, o
Sistema Industrial, e concebe, a partir daí, a criação de uma ciência social e
de uma política científica. Já de posse, desde 1826, das grandes linhas de seu
sistema, Comte abre em sua casa, rua do Faubourg Montmartre, um Curso de
filosofia positiva - rapidamente interrompido por uma depressão nervosa - (que
lhe vale ser internado durante algum tempo no serviço de Esquirol). Retoma o
ensino em 1829. A publicação do Curso inicia-se em 1830 e se distribui em 6
volumes até 1842. Desde 1831 Comte abrirá, numa sala da prefeitura do 3.°
distrito, um curso público e gratuito de astronomia elementar destinado aos
"operários de Paris", curso este que ele levaria avante por sete anos
consecutivos. Em 1844 publica o prefácio do curso sob o título: Discurso dobre o
espírito positivo.
É em outubro de 1844 que se situa o segundo encontro capital
que vai marcar uma reviravolta na filosofia de Augusto Comte. Trata-se da irmã
de um de seus alunos, Clotilde de Vaux, esposa abandonada de um cobrador de
impostos (que fugira para a Bélgica após algumas irregularidades financeiras).
Na primavera de 1845, nosso filósofo de 47 anos declara a esta mulher de 30 seu
amor fervoroso. "Eu a considero como minha única e verdadeira esposa não apenas
futura, mas atual e eterna". Clotilde oferece-lhe sua amizade. É o "ano sem par"
que termina com a morte de Clotilde a 6 de abril de 1846. Comte sente então sua
razão vacilar, mas entrega-se corajosamente ao trabalho. Entre 1851 e 1854
aparecem os enormes volumes do Sistema de política positiva ou Tratado de
sociologia que intitui a religião da humanidade. O último volume sobre o Futuro
humano prevê uma reformulação total da obra sob o título de Síntese Subjetiva.
Desde 1847 Comte proclamou-se grande sacerdote da Religião da Humanidade.
Institui o "Calendário positivista" (cujos santos são os grandes pensadores da
história), forja divisas "Ordem e Progresso", "Viver para o próximo"; "O amor
por princípio, a ordem por base, o progresso por fim", funda numerosas igrejas
positivistas (ainda existem algumas como exemplo no Brasil). Ele morre em 1857
após ter anunciado que "antes do ano de 1860" pregaria "o positivismo em
Notre-Dame como a única religião real e completas".
Comte partiu de uma crítica científica da teologia para
terminar como profeta. Compreende-se que alguns tenham contestado a unidade de
sua doutrina, notadamente seu discípulo Littré, que em 1851 abandona a sociedade
positivista. Littré - autor do célebre Dicionário, divulgador do positivismo nos
artigos do Nacional - aceita o que ele chama a primeira filosofia de Augusto
Comte e vê na segunda uma espécie de delírio político-religioso, inspirado pelo
amor platônico do filósofo por Clotilde.
Todavia, mesmo se o encontro com Clotilde deu à obra do
filósofo um novo tom, é certo que Comte, já antes do Curso de filosofia positiva
(e principalmente em seu "opúsculo fundamental" de 1822), sempre pensou que a
filosofia positivista deveria terminar finalmente em aplicações políticas e nas
fundação de uma nova religião. Littré podia sem dúvida, em nome de suas próprias
concepções, "separar Comte dele mesmo". Mas o historiador, que não deve
considerar a obra com um julgamento pessoal, pode considerar-se autorizado a
afirmar a unidade essencial e profunda da doutrina de Comte.(¹)
(¹) Comte, afirmando vigorosamente a unidade de seu sistema,
reconhece que houve duas carreiras em sua vida. Na primeira, diz ele sem falsa
modéstia, ele foi Aristóteles e na segunda será São
Paulo.
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